Sessão: Dicas de Viagens
"Sair de casa é a oportunidade de sermos estrangeiros não só aos olhos dos nativos de outro país, mas estrangeiros num sentido mais amplo. Pense: o ambiente doméstico nos mantém amarrados a um procedimento mecânico. Os móveis da nossa casa estão sempre no mesmo lugar. Os copos, na mesma prateleira da cozinha. Temos nosso lado preferido da cama. Todo dia ela faz tudo sempre igual, diz a canção de Chico Buarque - Cotidiano. Esse condicionamento não estimula mudanças. Por isso, entre outros benefícios, viajar é uma maneira de nos espalharmos, de rompermos com nossas divisórias internas e aniquilarmos medos e tabus. Viajando é que descobrirmos nossa coragem e atrevimento, nosso instinto de sobrevivência e nossa capacidade de respeitar novos códigos de conduta. Viajar minimiza preconceitos. Viajantes não têm partidos políticos, classes sociais, times de futebol, firma reconhecida em cartório, senhas decoradas na cabeça. Reciclam-se a cada manhã, quando acordam - e acordam, que benção, sem a tirania do despertador.
Se para você é um suplício abandonar seu sofá, seu carro, seu travesseiro, não viaje. Se você é do tipo que não consegue se maravilhar com o que está vendo porque está mais preocupado com os mosquitos, os remédios, as gorjetas, o fuso horário e em checar os e-mails do trabalho, não viaje. Se você não faz ideia em que ponto do mapa fica o local para onde está indo, não tem a mínima curiosidade sobre a cultura do lugar, até desconhece o idioma falado, não viaje. Se você está fazendo as malas sob coação, pois sua mulher o ameaçou com o divórcio, faz bem em ter juízo, vá com ela. Mas, fora algum outro caso assim extremo, não viaje. Não é obrigatório. Não assegura uma vaga no céu. Viajar é para quem tem espírito desbravador, mas se você não tem, não tem.
Aliás, esse espírito desbravador funciona inclusive na cidade em que você mora. É ele quem faz com que não fiquemos confinados sempre no mesmo bairro, é ele que nos estimula a conviver com pessoas diferentes, é ele que nos ajuda a perceber detalhes nunca vistos antes nas ruas por onde passamos todos os dias. Esse espírito desbravador pode habitar alguém que, infelizmente, não tem condições para viajar por falta de recursos financeiros. Ainda assim, esse alguém é mais cosmopolita do que aquele que tem um ótimo saldo no banco, mas não faz a menor questão de conferir de perto o que aprendeu nas aulas de geografia e história. O mundo não é justo, sabemos".
Fonte: Livro Um lugar na Janela de Martha Medeiros.
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